Introdução
Os cateteres venosos centrais são atualmente aceites como parte integrante dos cuidados ao doente crítico ou com situações crónicas, no entanto acarretam um elevado risco de infeção aumentado a morbilidade, mortalidade e os custos dos cuidados de saúde. Os resultados nacionais confirmam essa evidência, sendo a demora média dos doentes que adquirem uma infeção nosocomial da corrente sanguínea (INCS) de 35,3 dias de internamento contrastando com a demora média global de 8,9 dias (DGS, 2006).
É, portanto um problema significativo pelo que as intervenções realizadas pelos enfermeiros são fundamentais para a prevenção, diminuição e controlo da infeção, uma vez que é o profissional que mais intervenções executa junto do mesmo, constituindo assim uma oportunidade de contribuírem de forma mais eficaz para redução das taxas de infeção hospitalar associadas à sua presença.
Fundamentação teórica
A infecção hospitalar ou infecção nosocomial é definida como sendo uma infecção adquirida durante o internamento do doente (sendo que não é causa primária deste), que se manifesta após a alta, todavia, que se encontram relacionadas com o internamento ou procedimentos hospitalares. (WHO, 2001)
De entre as infecções nosocomiais mais frequentes e graves encontram-se as infeções associadas à corrente sanguínea, em particular as relacionadas com a presença do cateter venoso central. Estas variam consideravelmente conforme a dimensão do hospital, os serviços/unidades e o tipo de cateter (Programa Nacional de Controlo de Infeção, 2006).
Em unidades de cuidados intensivos o uso do CVC é uma prática extremamente comum, uma vez que o tratamento ao doente crítico implica procedimentos e intervenções terapêuticas complexas (administração de fármacos, alimentação parentérica, monitorização hemodinâmica entre outros). Subsiste assim, um risco acrescido de infeção, onde a vigilância, prevenção e controlo da mesma são fundamentais.
O seu uso, pese embora indispensável, é apontado como um factor importante de risco para o aumento das infecções nosocomiais da corrente sanguínea, aumentando o período de internamento, da morbilidade/mortalidade e dos custos de hospitalização. Além da correta colocação do cateter, não é menos importante a segurança e eficiência na sua utilização e manipulação, competindo ao enfermeiro um papel fundamental na sua evitabilidade.
As intervenções de enfermagem que mais se evidenciam na manipulação do CVC relacionam-se com a preparação de terapêutica, mudança dos sistemas e prolongadores associados à perfusão de soros, nutrição parentérica, sangue e derivados entre outras perfusões; realização do penso do local de inserção (no que se refere às soluções utilizadas, tipos de pensos e frequência de realização dos mesmos) e barreias de proteção utilizadas perante a manipulação do acesso central.
As colonizações do cateter e as infeções da corrente sanguínea podem ser, em grande parte, evitáveis, tornando-se de extrema importância o desenvolvimento de boas práticas na prevenção e controlo de infeções. Formar os profissionais de saúde, incidindo nos aspetos relacionados com as indicações para a utilização de cateteres intravasculares, procedimentos adequados para a sua inserção e manutenção é assim de crucial importância.
As atuais recomendações para a prevenção das infeções da corrente sanguínea tem várias categorias de intervenção, sendo as mais importantes:
- Educação dos profissionais de saúde e dos doentes;
- Assepsia;
- Seleção do tipo de CVC;
- Seleção do local de inserção;
- Precauções de barreira estéril durante o procedimento de colocação;
- Cuidados ao CVC e ao local de inserção;
- Princípios gerais de manuseamento do CVC.
Princípios geral de Manutenção do Cateter Venoso Central
- Sempre que possível, o local de inserção deve ser observado diariamente para a presença de sinais de inflamação local (eritema, edema, exsudado);
- Estar atento a sinais de infeção sistémica: hipertermia
- Efetuar desinfeção higiénica das mãos; usar luvas esterilizadas e usar assepsia rigorosa aquando a desconexão ou manipulação de qualquer parte do sistema;
- Desinfetar as mãos antes e após a palpação do local de inserção, bem como antes e após inserir, substituir, aceder ou fazer o penso;
- A palpação do local de inserção não se deve realizar após a aplicação do antisséptico, a não ser que se mantenha a técnica asséptica;
- Desinfetar os acessos (torneiras, etc.) com a solução indicada pelo fabricante (as soluções antissépticas de base alcoólica são as recomendadas porque combinam os benefícios de rapidez de ação, com a atividade residual e espetro bacteriano);
- Manter os acessos das torneiras devidamente obturados quando não são utilizados;
- A decisão de remover o CVC é clinica, baseada na situação clinica do utente, na função do acesso e na virulência do microrganismo isolado.
Preparação de fármacos
- Retirar adornos das mãos; (anéis, pulseiras, relógio etc)
- Desinfetar a superfície de apoio para a execução do procedimento;
- Ter presente na proximidade os respetivos recipientes para a triagem dos resíduos hospitalares (Grupo I, Grupo II e Grupo IV);
- Realizar lavagem das mãos com água e sabão; (o uso de luvas não dispensa a necessidade deste procedimento);
- Colocar bata, touca e máscara;
- Usar campo esterilizado e dispor todo o material necessário à preparação mantendo assepsia; (seringas, agulhas, compressas, soro fisiológico, marcador cirúrgico etc);
- Realizar higiene das mãos com água e sabão seguido de nova fricção com solução antissética de base alcoólica;
- Calçar uma luva esterilizada (manusear material estéril);
- Preparar as seringas com as soluções necessárias, cumprindo norma asséptica, colocando-as no campo;
- Calçar a segunda luva esterilizada;
- Identificar as preparações.
Administração de fármacos
- Envolver e friccionar os terminais dos cateteres/prolongador e torneira (descontaminar) com compressas embebidas na solução de cloro-hexidina a 2% em álcool ou álcool a 70%, durante 15 segundos e deixar secar, antes de conectar/manusear qualquer dispositivo estéril. (pontos de acesso dos sistemas e prolongadores, ramos do CVC, clamps, dispositivos de pressão positiva, válvulas anti refluxo);
- Quando o cateter tem mais de uma via individualizar todo o material; (antes da administração de qualquer terapêutica verificar a permeabilidade do ramo do acesso que esta a ser utilizado);
- Usar as restantes compressas previamente impregnadas com solução de cloro-hexidina a 2% em álcool, e envolver novamente as extremidades dos cateteres e executar a administração da terapêutica;
- Lavar o ramo do cateter com 10 ml de soro fisiológico; (caso se justifique, ou seja, se nenhuma perfusão em curso)
- Realizar os respetivos procedimentos para manutenção de via do CVC (heparinização, uso de conector com pressão positiva, válvula anti refluxo etc.);
- Colocar novo conector/obturador no local de administração;
- Executar lavagem das mãos no final do procedimento;
- Registar.